Pelo terceiro ano consecutivo o resultado do Carnaval carioca é definido após a quarta-feira de cinzas. Desta vez, as regras do jogo foram descumpridas à favor da Imperatriz Leopoldinense, que ficou em 13º lugar no Carnaval 2019 e havia sido rebaixada para o Grupo de Acesso. Sem explicações plausíveis sobre essa decisão, Jorge Castanheira renuncia o cargo de presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio(Liesa) e instituição passa por crise interna.
Parece que o objetivo de permanecer com 12 escolas de samba no Grupo Especial a partir do desfile de 2021 não será cumprido. Com o retorno da Imperatriz, o grupo de elite volta a ter 14 agremiações, e segundo os presidentes das escolas filiadas à Liesa que, com o placar de 8 a 5, decidiram desrespeitar o regulamento pelo terceiro ano seguido. O Império Serrano, a última colocada em 2019, desta vez não foi salva da degola e, a princípio, irá desfilar na Série A em 2020.
Representantes da Mangueira, Viradouro, Vila Isabel, Portela e Beija-Flor foram contrários à decisão. Já os representantes que votaram à favor foram: Mocidade, Salgueiro, São Clemente, União da Ilha, Estácio de Sá, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Unidos da Tijuca. Rogério de Andrade e Regina Celi, ex-presidentes da Mocidade e Salgueiro, respectivamente, também são diretores da instituição, estavam presentes na plenária, assim como a presidente do Império Serrano, Vera Lúcia. Com esta medida, a Liga terá acertar às contas com o Ministério Público, que em 2018 assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que se comprometia a respeitar o regulamento e caso houvesse o descumprimento, teria que pagar a multa de R$ 750 mil.
Após a reunião, Jorge Castanheira cedeu uma entrevista coletiva e anunciou seu afastamento do cargo de presidente da Liga por não concordar com a decisão. Outros nove membros da diretoria também devem deixar seus cargos e uma nova eleição deve acontecer em breve. Castanheira – que estava no posto desde 2007 – vai tomar medidas para a transição do seu sucessor.
Repercussão da virada de mesa põe em xeque a credibilidade o resultado do Carnaval carioca
Com a terceira virada de mesa consecutiva, o famoso peso da bandeira cada vez toma o lugar da credibilidade dos resultados da competição. A repercussão foi tão grande que o assunto ficou por 2 horas na lista do Trending Topics do Twitter, como os 10 mais comentados na noite desta segunda. Vários sambistas se manifestaram nas redes sociais que estão cada vez mais decepcionados com os rumos que a festa vem seguindo e também se desapontam com o posicionamento dos presidentes através dos votos que livraram a Imperatriz do rebaixamento.
Como no caso de Grande Rio, Unidos da Tijuca e Paraíso do Tuiuti, que foram absolvidas do descenso nos anos anteriores e também a São Clemente, que foi lembrada pelo desfile deste ano “O Samba Sambou” por falar justamente sobre a comercialização do carnaval questionando dirigentes, cambistas e imprensa numa tentativa de discutir a relação das escolas com a essência da festa, e inclusive, trouxe na Comissão de Frente uma crítica à Liesa e a virada de mesa que marcaram os últimos resultados.
No entanto, a Beija-Flor de Nilópolis, uma das 5 instituições que votou contra a virada de mesa, se manifestou em suas contas e anunciou o cancelamento da festa de lançamento do enredo para o Carnaval 2020 como forma de protesto.
Renúncia de Castanheira fomenta novos rumos na estrutura política da Liesa
Olhando e analisando a renúncia de Castanheira por outro prisma, é notória a demonstração derradeira da mudança de rumos na gestão da Liesa. Os pólos de liderança estão se virando para uma nova estrutura política, onde as escolas consideradas do lado menos influente se juntaram e derrotaram o “alto clero” da liga. Nomes tradicionais como Anísio Abrão David e Capitão Guimarães perderam a queda de braço para Rogério Andrade, Jayder Soares e Fernando Horta, com isso, a estrutura política do carnaval pode começar a ganhar uma nova dinâmica.
