“Novo mundo, novos tempos…”. Esta frase retirada do samba do Salgueiro de 2007 pode traduzir o reflexo da saída de Paulo Barros do carnaval carioca. Sim! Apesar dos rumores, até o momento, não há nada oficial sobre seu retorno à Unidos da Tijuca, a casa onde o consagrou.

O desligamento de Paulo Barros da Viradouro vai muito além da quebra de contrato. Estamos falando de um dos principais personagens do carnaval moderno, que nos últimos 15 anos revolucionou a estética e a concepção de desfiles trazendo a inovação em meio às apresentações engessadas que já não causavam tanto impacto ao público. Diante de nossos olhos, gostando do estilo ou não, artista se tornou o Top Of Mind da década. É de costume, principalmente para a grande massa que só acompanha a reta final da pré-temporada se interessar um pouco mais sobre qual a escola onde Barros será carnavalesco e o quê ele trará de novidade em seu desfile. Não foi por acaso que seu nome esteve presente no Trending Topics, sendo um dos 10 principais assuntos do país durante 4 horas na tarde desta segunda-feira, dia 06.

Ao longo da sua carreira ele conquistou uma legião de fãs (como também gente que não gosta) com a sua arte e fez dela o seu portfólio pro carnaval carioca, suprindo às necessidades de fazer do espetáculo o novo elo que unisse a tradição do cortejo da escola de samba à magia que acontece diante dos nossos olhos que encanta milhões de pessoas pelo mundo fazendo com que Paulo Barros se tornasse personagem fundamental da cultura carnavalesca.

No entanto, o profissional que foi consagrado pela Sapucaí terá o desafio de começar tudo outra vez, só que agora em solo paulistano. Há um mês, Barros assinou com a Gaviões da Fiel para sua estréia como carnavalesco, fato este de total desagrado da diretoria da Viradouro que o queria com exclusividade para seu projeto de 2020, alegando como esta a justificativa para o fim da parceria com o carnavalesco que colaborou com a agremiação na conquista do vice-campeonato deste ano.

Após o fato consumado, ficam levantadas algumas questões: a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) teria o poder de intervir para que um dos carnavalescos que mais atrai público para os desfiles permanecesse no carnaval carioca e asseguraria poderosos pontos na contagem da audiência da TV?

a exclusividade que as agremiações exigem, não permitindo em que o profissional trabalhe ao mesmo tempo no Rio e em São Paulo, reforçam o nível de competitividade entre os dois maiores carnavais de avenida do país causando o declínio em uma das festas?

com a migração de grandes nomes do carnaval carioca, está decretada o fim da província carnavalesca, sacramentando a cidade paulistana como o novo eldorado da folia?

Olhando o carnaval pelo âmbito mercadológico, a saída de Paulo Barros pode sim causar grandes impactos nos desfiles cariocas. Como já havia citado acima, gostando ou não do seu estilo de trabalho, ele atrai e eleva midiaticamente o interesse pelos desfiles graças aos seus “elementos surpresa” trazendo a cada ano algo de inovador pra Avenida, e financeiramente falando, é bastante lucrativo para a escola em que ele está, para a Liga e para a cidade. Não que os turistas venham por causa dele, mas sua persona e seus desfiles acabam sendo aquela cereja do bolo atraindo pessoas e marcas que queiram fazer parte da experiência que a festa proporciona durante os 85 minutos da sua apresentação. Tanto no público presente, quanto nos espectadores do mundo inteiro gera uma expectativa muito grande em relação ao nome do artista, aumentando a visibilidade do espetáculo.

E quando o assunto é visibilidade, o Carnaval carioca é um dos pólos mais atrativos nos dias de folia. Pesquisas comprovam que a cada ano aumenta o número de turistas que escolhem a cidade do Rio de Janeiro para curtir o feriado prolongado, em consequência aumenta a renda per capita da cidade. Porém, como todos nós já sabemos, nos últimos 2 anos tanto o movimento carnavalesco (tanto o carnaval de avenida quanto o carnaval de rua) passa por um processo de desconstrução, na condição de espetáculo artístico-cultural, que reflete negativamente na imagem da festa causando o desinteresse em patrocinadores.

Olhando especificamente para os desfiles das escolas de samba o caso se torna mais crítico graças ao relacionamento desgastado da liga com o poder público, assim como a falta de credibilidade nos resultados devido a virada de mesa em 2 anos consecutivos, e também o engessamento de buscar novas soluções para a sobrevivência dos desfiles trouxeram como consequência a queda de receitas que provoca como por exemplo, a dificuldade de pagamento de profissionais e fornecedores para o processo de construção dos desfiles.

No entanto, é no Rio de Janeiro que todos os profissionais do carnaval querem chegar e conquistar o seu espaço. É no Rio que estão fincadas as raízes tradicionais dos festejos, os fundamentos que compõem o aspecto ancestral e cultural da festa. É no Rio que são revelados os grandes artistas plásticos que escreveram com seu talento a história dos desfiles. Se deu início com Pamplona, Arlindo, Joãosinho, Rosa, Maria Augusta… para que Leandro, Jorge, Edson, João Victor, Jack, Leonardo e Gabriel brilhem nos dias de hoje. Só antes desta geração, vieram Renato, Mauro, Alex e Paulo é um deles.

Acredito que, jamais passou na mente de nenhuma pessoa que acompanha o carnaval o ano inteiro, que um dia, Paulo Barros estaria de fora do carnaval carioca. Figura certa no Grupo Especial desde 2004, até o momento, o maior nome da década anterior escreverá um novo capítulo de sua história, tendo o Anhembi como sua Passarela. Essa mudança só agrega valor ao Carnaval Paulistano, que cada vez mais toma os holofotes pra ele para se tornar, como diz o slogan, o melhor carnaval do país. A organização e o modelo de gestão que a liga e as escolas paulistanas gerenciam despertam o interesse de profissionais do carnaval em ter o seu nome ligado ao pólo carnavalesco que mais cresceu nos últimos anos.

Além de Barros, outro ícone que construiu seu legado no carnaval do Rio e está de mudança é o Mestre Marcão, que se desligou do Acadêmicos do Salgueiro em 2018 e esta semana, foi contratado pela escola de samba Camisa Verde e Branco para assumir o comando da bateria Furiosa. Isso sem contar com o retorno do intérprete Igor Sorriso pra Mocidade Alegre em 2019.

Agora com a saída da Viradouro, a única chance de manter Paulo no Rio está nas mãos da Unidos da Tijuca. O maior carnavalesco da história da escola e deu um título à agremiação depois de sete décadas de jejum e ainda conquistou os campeonatos de 2012 e 2014. Foi com ele que a amarelo ouro e azul pavão do Borel veio para a linha de frente do Grupo Especial com os vice-campeonatos em 2004 e 2005. Porém, resta saber se a escola tijucana aceitará as condições de dividir o artista com a Gaviões para reascender às chamas da parceria vitoriosa que fizeram no passado e quem ganhará com isso serão os dois carnavais que assistirão um espetáculo com muita ousadia, surpresas, irreverência e muita criatividade.

Pra quem achava que o Mercado do Carnaval estava morno e definido, não se engane porque ele pode mudar a qualquer momento. Será que a parceria entre Tijuca e Paulo voltará? Onde a Viradouro vai achar algum profissional para manter o nível do desfile rico de 2019? Será que vai ser o primeiro ano sem Paulo Barros na Sapucaí?

Haja emoção!

2 COMENTÁRIOS

  1. PAULO BARROS É TOP….COM UM CARNAVAL IRREPREENSIVEL, MARAVILHOSO, ABSOLUTAMENTE CORRETO, PERDEU O CAMPEONATO, POLITICAMENTE. EU NÃO CONSIGO ENTENDER. O VICE PRA ELE , FOI INDECENTE! CONTESTAVEL! INESPLICAVEL!.

  2. Acho que a Viradouro ficou com medo de perder o carnavalesco no ano seguinte , tenho certeza que Barros daria conta das agremiações , além disso ele tem uma equipe com ele , pessoas muito bem qualificada . Lembro que ele fez uma dobrada na Estácio de Sá 2005 , e deu o título a vermelho e branco juntamente com a Tijuca …. É agora viradouro? Missão será permanecer no grupo e não vencer , lamentável….

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here