Que a safra dos Sambas de Enredo para o Carnaval 2020 é uma das mais politizadas e mais aguardadas por todos os torcedores, disso já sabemos. Mas antes de chegar aos nossos ouvidos, os sambas depois de apresentados nas quadras para suas respectivas comunidades passam pela fase da gravação, e antes de entrar nos estúdios, as obras passam pelo pente fino da diretoria pra saber se haverá necessidade de alterações. Dependendo de muitas análises até chegar o resultado final, as mudanças variam de uma palavra até por outra melodia.
Tudo é válido para conquistar os 40 pontos no quesito Samba-Enredo. É ele quem carrega uma das maiores responsabilidades no desfile por ser cantado por mais de 3 mil componentes durante 75 minutos, e vale ressaltar que no regulamento da Liesa julga 5 pontos da letra e 5 pontos da melodia. Das 13 agremiações do Grupo Especial, pelo menos seis passaram por pequenos ajustes procurando fazer o melhor.
“Concordemos ou não, essas mudanças são rotineiras. Elas ocorrem na letra por alguma necessidade do carnavalesco em relação ao seu desfile, no caso, para melhorar o diálogo do samba com a estética, ou na melodia, provavelmente, com um intuito de melhorar e fortalecer o quesito da harmonia, o canto da escola.”, diz o compositor e comentarista de Samba-Enredo do Carnaval Interativo, Thales Nunes.
Um dos sambas vencedores de concursos que sofreu alteração foi o da Mangueira. A diretoria da Verde e Rosa divulgou na última sexta-feira, dia 18, a versão oficial da obra composta pelo casal bicampeão Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo, mas pelo visto a mudança dividiu opiniões dos mangueirenses onde muitos chegaram a pedir a volta da versão original no Facebook da agremiação.
As alterações na obra sobre o enredo “A Verdade Voz Fará Livre” foram os recortes na letra e algumas modificações na melodia. O trecho “Mangueira, samba que o samba é uma reza, se alguém por acaso despreza, teme a força que ele tem” perdeu um verso inteiro e ficou assim:
Mangueira
Samba teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Assim como o trecho para a preparação do refrão “Do céu deu pra ouvir o desabafo sincopado da cidade; quarei tambor, da cruz fiz esplendor; e num domingo verde-e-rosa; ressurgi pro cordão da liberdade” perdeu um verso e ficou assim:
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor da cruz fiz esplendor
E ressurgi no cordão da liberdade
Em defesa da mudança, o compositor Luiz Carlos Máximo escreveu em sua rede social que ele e sua esposa concordaram com as mudanças como participaram ativamente delas junto dos responsáveis pela parte musical e do carnaval da escola.
“Mudança e estranhamento geralmente se casam e tem a rejeição como resposta imediata. “Não gostei!”
A boa transformação e o tempo também se casam e tem a admiração como resposta ao longo do percurso. “E não é que ficou melhor?!”
As primeiras reações às mexidas no samba mangueirense são muito naturais. Por cerca de dois meses uma música que foi ouvida, cantada e admirada sofreu alterações que não serão absorvidas de imediato. Ainda mais no gênero samba de enredo em que geralmente se faz necessário ter mais do que algumas audições pra se chegar a uma opinião definitiva.
Quem lembra das mudanças no samba de 2019? Quem sente saudades da versão original? Nem sei mais como era.
É legal também esclarecer que eu e Manuela Oiticica, autores do samba, não só concordamos com as mudanças como participamos ativamente delas junto dos responsáveis pela parte musical e do carnaval da escola. Nada foi feito à revelia da gente. Ao contrário. Tudo foi feito com o máximo de debate e experimentações pra se chegar no que achamos que é o melhor pra Mangueira conquistar o bicampeonato. Inclusive, durante o processo de disputa, eu e Manu, já havíamos percebido a necessidade de algumas das alterações que foram feitas.
É de certa forma gratificante a forma incisiva que admiradores do samba da Mangueira reagiram, que prova a justeza na escolha. Porém, é preciso de tempo pra que a versão original “saia da cabeça” e a nova seja acolhida. Mas verão que o samba ficou muito melhor pro canto e pro desfile e em nada perdeu poeticamente, em melodia e no desenvolvimento do enredo.É assim mesmo. Muitas vezes de casa pro estúdio a gente já observa que é preciso uma ou outra mudança. Depois de gravado vem outras. Na quadra, também. E muitas vezes não se muda no desfile porque não dá mais. Já tive samba campeão, 40 pontos, premiado, que hoje teria mexido. Tá sempre vivo!
Agora é preciso cantar! E hoje já tem ensaio na quadra com ingresso a 10 pratas. Taí uma boa oportunidade, depois do emocionante sábado da final, pra gente se reencontrar, comentar sobre a vitória, sobre as mudanças e sobretudo comemorar, saudar e cantar muito o samba da verde e rosa de 2020. Te esperamos lá .
“Mangueira samba teu samba é uma reza…” , afirma Luiz Carlos Máximo.
E você, concorda com as alterações nas letras e melodias nos sambas após o concurso?
