Por: Aline Lima
Foto: Fabio Motta | Riotur

Após dois anos sem Carnaval na cidade do Rio de Janeiro, a Série Ouro reabriu a primeira noite de desfiles no Sambódromo, localizado na Avenida Marquês de Sapucaí nesta quarta-feira, dia 20. Sete escolas se apresentaram em busca do título que vai garantir uma vaga no Grupo Especial no próximo ano. Confira:

Em Cima da Hora

A Em Cima da Hora teve a responsabilidade de abrir a primeira noite de desfiles do Carnaval 2022 e passou com alegria e irreverência. A escola enfrentou problemas de evolução, formando um buraco considerável ao longo da avenida. Retornando à Marquês de Sapucaí após seis anos, a escola do bairro de Cavalcanti apresentou uma releitura do enredo “33 – Destino Dom Pedro II”, cujo samba é um clássico do carnaval de 1984. O desfile durou 53 minutos.

Destaque para a Comissão de Frente, coreografada por Carlos Fontinelle, que exaltou os homens e mulheres que residem no subúrbio carioca e utilizam o trem como meio de locomoção. Os integrantes estavam com fantasias simples, porém carnavalizadas e representavam diversos personagens do cotidiano do Rio de Janeiro: vendedores (de perna de pau), artistas, a beata, a gestante, a baiana, a menina de laço de fitas, a cartomante, o professor, o operário, o trombadinha e o policial. A apresentação da comissão durou cerca de 3m09seg em frente ao módulo de quesitos.

O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira da Em Cima da Hora, Jonhy Mattos e Jack Antunes desfilou com a fantasia “Senhores do Tempo”. Os dois representavam a dança dos relógios e ponteiros que marcam o tempo dos suburbanos, que lutam para chegar “lá em Dom Pedro a tempo de bater cartão”. A apresentação do casal em frente à cabine de jurados durou por volta de 1min30seg.

Trunfo da escola, o Samba-Enredo composto por Guará e Serginho das Rosas é sem dúvidas um dos grandes clássicos da história do carnaval. Nessa segunda passagem pela avenida, teve um rendimento satisfatório, apesar dos problemas do som da avenida, muito por conta da ótima atuação do intérprete da escola Ciganerey. Os componentes da Em Cima da Hora de modo geral cantaram o samba, porém a intensidade do canto não foi constante durante o desfile. Algumas alas cantaram mais do que outras, comprometendo a unidade sonora.

A bateria comandada por mestre Wando Antunes fez alusão ao samba batucado nos vagões do “trem do samba”, que costuma ocorrer no dia 2 de dezembro, o dia nacional do samba. Os ritmistas vieram de azul e branco vestidos como sambistas tradicionais, com um chapéu panamá branco de fita azul. A bateria Sintonia de Cavalcanti executou com sucesso as suas bossas durante o desfile. Destaque para a que fez referência a batida do funk carioca no trecho do samba no trecho “O trombadinha quase sempre se dá bem”. Vale destacar que algumas baterias do subúrbio carioca têm a batida das suas caixas inspiradas no som emitido entre o choque das rodas e amortecedores do trem com os trilhos.

Acadêmicos do Cubango

Um show de criatividade, acabamento e bom gosto, assim pode ser definido o conjunto de fantasias do Acadêmicos do Cubango nesta primeira noite de desfiles da Série Ouro. Porém, o capricho visto nas alas não se repetiu nos carros, todos passaram com problemas de iluminação na avenida, além de falhas no acabamento, o que compromete a luta da escola pelo título e o tão sonhado acesso ao Grupo Especial. Além das fantasias, a escola apresentou uma comissão de frente emocionante e bem coreografada, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Falcão e Aline Flores, também merece destaque, além da bela fantasia, o bailado foi gracioso e ambos demonstraram bastante entrosamento. Apresentando o enredo “O Amor Preto Cura: Chica Xavier, a Mãe Baiana do Brasil”, assinado pelo carnavalesco João Vitor Araújo, a Cubango homenageou a atriz Chica Xavier e foi a segunda escola a cruzar a passarela do samba na primeira noite de desfiles da Série Ouro. A verde e branca de Niterói terminou sua apresentação com 54 minutos.

A comissão de frente era intitulada “Aos Pés da Jurema Sagrada”, foi dirigida e coreografada por Fábio Batista. A escola apostou em uma narrativa de fácil leitura e ao mesmo tempo com coreografias arrojadas, o elemento alegórico representava a própria Jurema, a árvore sagrada dos Caboclos, uma componente representava a atriz Chica Xavier, grande homenageada do enredo,os outros integrantes da comissão representavam Caboclos, Orixás e Filhas de Santo.

O início forte visto na comissão de frente seguiu com o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Falcão e Aline Flores, a fantasia representou a Bahia e todo o sincretismo que envolveu a vida de Chica Xavier, ambos tinham o branco como cor predominante.

Considerado no pré-carnaval como um dos bons sambas deste ano, a obra composta por Cláudio Russo e parceiros teve um bom rendimento, com o experiente Pixulé no comando do carro de som o canto da escola foi constante, ainda que em alguns momentos não tão intenso, e sem aquele momento de grande explosão.

A bateria da escola comandada por Mestre Demétrius Luiz representou os Griôs e levantou a Sapucaí por onde passou, os 220 ritmistas realizaram várias bossas durante a passagem da escola.

Unidos da Ponte

Terceira escola a pisar na Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série Ouro, a Unidos da Ponte apresentou um desfile irregular, alternando bons e maus momentos. Com problemas de evolução e erro na apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, a escola meritiense atravessou a pista em 56 minutos, um a mais que o permitido no regulamento. Outrora criticado, o samba da escola apresentou desempenho satisfatório na avenida.

Coreografada por Valci Pelé, a Comissão de Frente da Unidos da Ponte veio representando o “O Anjo Bom da Bahia”. O grupo contava com 11 componentes homens e 4 mulheres, sendo uma representante da própria homenageada do enredo, Irmã Dulce, com as vestes características da mesma. Além da homenageada, outros integrantes da comissão representavam os desfavorecidos, com quem a Santa sempre teve relação, ao longo da vida.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Ponte, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, vestia uma bela fantasia em tons de branco com bege, que representava a santíssima trindade cristã, “Em nome do pai, do filho e do espírito santo”. A dupla, que já desfila junta como segundo casal da Portela, no Grupo Especial, fez uma apresentação bem irregular ao longo da avenida, com falhas na execução. Logo na primeira cabine, do setor três, a mais grave das falhas, na qual a porta-bandeira se desequilibrou e caiu, na frente dos jurados. Nas outras cabines, talvez devido ao ocorrido, o casal apresentou certa insegurança na execução dos movimentos, com algumas falhas na sincronia.

O carro de som da escola de São João de Meriti, capitaneado por Charles Silva, teve bom desempenho na avenida. Os cantores conseguiram dar animação ao samba da Ponte, apesar de sua característica muito melódica, como em forma de oração. O samba da Unidos da Ponte, composto por Diego Nicolau, Richard Valença, Sandra de Sá e parceiros, teve bom desempenho no desfile da escola da Baixada. Apesar de sua característica mais “pra baixo”, a obra conseguiu sustentar o desfile da escola durante todo o tempo. 

A bateria da Unidos da Ponte, comandada por mestre Branco Ribeiro, representou Santo Antônio, de quem Irmã Dulce era devota. Os ritmistas estavam com uma roupa de fácil leitura e comunicação com o público, devido a popularidade do santo. Ao longo da avenida, na realização de uma das bossas, era lançada uma “chuva de fogo” no meio dos ritmistas.

Porto da Pedra

A Porto da Pedra foi a primeira escola na noite em que as bandeirinhas começaram a tremular na arquibancada. Muito esperada por ter um dos melhores sambas da safra de 2022, o Tigre apresentou alegorias de destaque, uma comissão de frente com coreografia forte e de marcante caracterização, além do já destacado primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Rodrigo e Cintya. Mas, a iluminação do Abre-alas da escola que passou apagado em todos os módulos, deve fazer a Vermelha e Branca de São Gonçalo perder décimos preciosos. Com o enredo “O caçador que traz alegria”, a Porto da Pedra foi a quarta agremiação a desfilar, encerrando seu desfile com 55 minutos.

A comissão de frente do coreógrafo Paulo Pina, representou a ancestralidade do candomblé, preservando a essência da religião pelas palavras dos mais sábios. O figurino se chamava “partículas de ancestralidade” e o tripé, grande e imponente, significava as raízes que alimentam os galhos, as folhas e os frutos de uma árvore. O tripé apresentava em palha a imagem da homenageada que se mexia, segurando “a flecha de Odé”, que acendia em um LED verde. A coreografia dos bailarinos fez algumas referências a palavras que o samba citava como “flecha”, “cabeça” e havia uma transformação na roupa em que a saia marrom subia e aparecia o verde das folhas, os componentes se transformavam em caçadores retirando flechas do elemento alegórico. 

O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Rodrigo França e Cintya Barboza, representou as raízes do candomblé que atravessaram além-mar e trouxeram a ancestralidade das terras africanas para São Gonçalo do Retiro na Bahia. No primeiro módulo, quase que a bandeira deu uma pequena enrolada, mas a porta-bandeira conseguiu evitar a tempo e manteve a continuidade da apresentação.

O samba, um dos trunfos da Porto da Pedra para 2022 se confirmou na Sapucaí com grande atuação do intérprete Pitty de Menezes e seu carro de som.

O mestre Pablo, comandante da Ritmo Feroz, veio fantasiado de Tigre, devidamente maquiado, inclusive, chamando atenção pela beleza da caracterização. A bateria veio representando os “Ogãs”, responsáveis em zelar pelo andamento do Xirê, os cuidados dos iniciados, a comunicação entre zeladores, Iaôs e os Orixás.A rainha de bateria Tati Minerato, que interagia bastante com o público e era lembrada em alguns momentos pelo intérprete Pitty de Menezes veio de “Agbara dos Ogãs” representando a potência e a força necessária para os ritmistas do Tigre de São Gonçalo dobrarem o couro dos instrumentos.

União da Ilha

Rebaixada em 2020, a União da Ilha do Governador deixou claro a vontade de retornar ao Grupo Especial no ano que vem. Na madrugada desta quinta-feira, a escola impressionou com enormes e bem acabadas alegorias. Outro destaque positivo da apresentação da agremiação foi a Comissão de Frente, que se dividiu em várias partes e não cometeu erros. Ao fim do desfile, a Ilha pecou na evolução e teve que correr para fechar o desfile com 54 minutos. A bateria sequer fez toda apresentação no último módulo.

Coreografada por Priscilla Mota e Rodrigo Neri, a Comissão de Frente a União da Ilha trouxe 15 componentes, sendo duas mulheres e 13 homens. Nomeado como o Altar de Orações, o segmento levou também para a Avenida um elemento cênico que representou uma capela. A apresentação representou uma grande oração, trazendo a importância da fé e os milagres da prece através da história de Nossa Senhora Aparecida, também sincretizada no Candomblé por Oxum, e o escravo Zacarias.

Marlon Flores e Danielle Nascimento vestiam fantasia nas cores da escola, mas também com detalhes em dourado e várias imagens de Nossa Senhora Aparecida espalhadas pela roupa dos dois. Outros símbolos da fé na Santa também são presentes no figurino, como crucifixos, terços e fitas. A dupla representa a fé do escravo Zacarias, que propagou a palavra de Nossa Senhora Aparecida pelo país.

O ponto alto do samba foi o refrão, bastante cantado não só pela escola, mas como pelo público. Ito Melodia teve grande apresentação do início ao fim, sem perder fôlego e impulsionando componentes. Com teor mais melódico, a letra toda, com exceção do refrão, não causou grande impacto e empolgação.

A bateria dos mestres Keko e Marcelo, que tinha boas bossas com sino de igreja, passou rápido no último módulo e um dos jurados pareceu insatisfeito com a falta da apresentação completa no local.

Unidos de Bangu

A Unidos de Bangu homenageou homenageou o contraventor Castor de Andrade no enredo “Deu Castor na cabeça”, assinado pelo carnavalesco Marcus Paulo, e foi a sexta escola a cruzar a passarela do samba na primeira noite de desfiles da Série Ouro. No geral, a apresentação foi bastante irregular, a escola desfilou já com o nascer do dia, o que prejudicou a harmonia, visto que muitos componentes apresentavam bastante cansaço. A vermelho e branco da Zona Oeste terminou sua apresentação com 58 minutos, o que fará com que a escola seja penalizada em três décimos no julgamento oficial.

A comissão de frente assinada pelo coreógrafo Vinicius Rodrigues tinha o nome “Botando a banca! Deu samba no jogo do bicho!”, os componentes representavam alguns animais do sorteio do jogo de bicho e com o uso da licença poética, o animal castor, que não faz parte do jogo do bicho, mas, que é o símbolo do homenageado, também foi representado. A apresentação da comissão focou no início da história de vida de Castor de Andrade, tudo sob a ótica do mascote que o representava, o Castor. Eram 10 homens e cinco mulheres, todos vestidos de terno branco, com listras vermelhas, a roupa era de fácil leitura e a leveza da roupa contribuiu para o bailado, vale destacar o bonito trabalho de maquiagem nos componentes.. Muito divertida, a comissão arrancou aplausos do público, porém, a comissão se apresentou de forma muito lenta pela avenida, o que atrapalhou a evolução da escola.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Anderson Abreu e Eliza Xavier, veio no setor de abertura da escola, logo atrás da comissão de frente, ela representou o jogo de bicho com numerações entre unidades e dezenas na indumentária. Já o mestre-sala era o próprio Castor de Andrade, com um trabalho de maquiagem incrível, Anderson emocionou o público.

O carro de som conduziu com empolgação e segurança a obra ao longo do desfile, O intérprete Thiago Brito, juntamente com as vozes de apoio e os instrumentos de corda mostraram entrosamento na avenida. O refrão foi sem dúvida a parte do samba-enredo da Unidos de Bangu cantada com mais intensidade. “O meu palpite é forte. O mundo já sabe, respeite meu nome: Castor de Andrade!” ganhava força a cada passada. O trecho “Vai dar Bangu na cabeça” também foi gritado pela maioria das alas.

A bateria do mestre Léo Capoeira representou o Clube do Bangu, vestidos nas cores do time, os 232 ritmistas realizam uma bossa ao ritmo de uma bandinha, encantando o público.

Acadêmicos do Sossego

O Acadêmicos do Sossego encerrou a primeira noite de desfiles do Grupo Especial já com o dia claro trazendo alegorias e fantasias em sua maioria com bom acabamento e muito bom gosto no uso das cores. A evolução da escola foi bastante fluida, sem correrias e sem muitas interrupções, com 48 minutos de desfile a bateria de mestre Laion já havia realizado sua apresentação no último módulo o que facilitou com que o Sossego terminasse sua apresentação brincando carnaval nos últimos metros de pista. Como ponto negativo, uma das alas, “Eu não Largo da Batalha”, trouxe componentes com roupa de baixo que não eram fantasias. O canto da agremiação também foi tímido, talvez justificado pelo cansaço gerado pelo atraso nos desfiles. Com o enredo “Visões Xamânicas”, o Sossego encerrou o primeiro dia de desfile fechando a apresentação com 53 minutos.

O coreógrafo Jardel Augusto Lemos apresentou na Avenida “o rito da viagem transcendental” que representava o ritual de transcendência do Xamã ao mundo espiritual. É a partir deste ritual que o herói desta fábula encontra os Xapiris (espíritos ancestrais) e estes lhes concedem as visões.  A coreografia trazia o encontro do herói da fábula com os Xapiris representados na fantasia em tons de roxo com uma caracterização que remetia a pássaros. Os componentes interagiam com um tripé representando Urihi, o lugar onde vivemos, a Terra.

O primeiro casal, Fabrício Pires e Giovanna Justo, representou “a dança dos Xapiris”,ancestrais que auxiliam os xamãs em suas jornadas espirituais. A experiente dupla optou por uma dança mais tradicional sem investir muito em fechamentos de passos mais coreografados. A leveza e o entrosamento do casal, o toque, foram o destaque. 

O samba-enredo funcionou muito bem na voz melódica de Nino do Milênio, e com uma andamento mais cadenciado produzido pela bateria Swing da Batalha de mestre Laion. Ainda que não tão cantado pela comunidade, os trechos de maior destaque eram o refrão principal, com maior evidência para o verso “Eu não Largo da Batalha ….Sossego”, o nome da escola era gritado em alguns momentos. O refrão do meio também se destacou em relação aos outros trechos.

Na bateria de mestre Laion, em um momento, os ritmistas abriam um espaço na pista e os indígenas que vinham logo depois representando guardiões, simulavam uma batalha com escudo e lança.

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