Mais que uma sambista, Dandara Oliveira é uma figura emblemática no Carnaval carioca. Aos 31 anos, prestes a completar 25 anos de desfiles, ela em 2020 fará sua estréia como rainha de Bateria na Renascer de Jacarepaguá. Hoje, a empresária, fisioterapeuta e professora de dança, tornou-se referência para muitas mulheres que desejam aprender a arte de samba no pé. Seus anos de dedicação ao carnaval rendeu a oportunidade de compartilhar seu conhecimento à celebridades como Sabrina Sato, Gisele Bündchen, Thaila Ayalla e muitas outras.

Nesse momento onde os sambistas que vem de berço disputam espaço com grandes cachês por compra de posto, a passista que é cria da escola mirim Herdeiros da Vila, trilhou seu caminho até ser musa na Unidos de Vila Isabel, é simbolo de resistência ao defender a essência do samba oriundo das comunidades.


Veja abaixo a entrevista que tivemos com Dandara, onde ela comenta sobre as tendências do mercado carnavalesco como rainha de bateria.

Carnaval Interativo – Ao mesmo tempo em que você completará 25 anos desfilando na Sapucaí pela Vila, será a sua estréia como rainha de bateria pela Renascer. Como está a sua preparação para este momento?

Dandara Oliveira – Na vida construímos ciclos e deles tiramos muitos ensinamentos. Busco aprimorar e adequar o meu samba ao meu corpo e ao meu ritmo de treino e alimentação. Trago comigo muitas aprendizagens e influências relacionadas ao mundo do samba e foi com elas que construí e reconstruo constantemente o meu samba. Por este motivo, busco levar para o Carnaval 2020 da Renascer de Jacarepaguá todas estas Dandaras construídas e estabelecidas ao longo destes 24 anos de Marquês de Sapucaí. Nada como completar 25 anos de Marquês representando esta bateria guerreira e competentíssima regida pelo mestre Junior Sampaio e representada na Renascer de Jacarepaguá, esta agremiação que valoriza tanto os seus segmentos, comunidade e componentes.

Em 2020 será a estréia de Dandara Oliveira como rainha de bateria e a sambista comemora 25 anos desfilando na Marquês de Sapucaí. Foto: Léo Cordeiro

C.I – Hoje percebemos que quando chega uma sambista para assumir o posto de rainha de bateria, acaba de início não possuindo tanta visibilidade, em relação às famosas. Você acha que isso acaba sendo um grande obstáculo para meninas que são da comunidade alcançarem esse tão sonhado posto?

D.O – Sou oriunda de outra comunidade, o que seria mais uma questão nesta temática, mas fui abraçada pelos integrantes da Renascer. A minha história no samba, certamente, fez com que este movimento fosse positivo. A questão de rainhas da comunidade atuarem considero ser fundamental para o processo de retornar à essência do carnaval. Temos muitas meninas capazes de representar suas comunidades com samba no pé, carisma e amor ao pavilhão. Penso que as oportunidades devem ser dadas, pois não haverá ninguém melhor que elas para representarem suas comunidades.

C.I – Você vê muita diferença nas rainhas, sendo elas do Grupo Especial ou do Acesso?

D.O –
No Grupo de Acesso, a maioria das rainhas têm um envolvimento maior com o carnaval, digo, que não é tão recente. Geralmente passam por várias alas e segmentos, até almejarem o sonho de se tornarem Rainhas de Bateria. No Grupo Especial, a maioria é famosa, são poucas que têm uma história com a agremiação, mas torço que este posto deva ser ocupado por sambistas de coração.

C.I – Você acha que sofremos discriminação racial dentro do carnaval, por incomodar ao ver uma mulher negra num posto tão sonhado por muitas mulheres?

D.O – Penso que o lugar de mulher é onde ela quiser, e da mulher negra que tem que se afirmar pra sociedade ainda mais. A mulher socialmente é tratada por muitos como à margem, mas independente de raça, classe social, religião, somos seres humanos, merecemos respeito e ainda sabemos bem o que queremos e onde queremos chegar e não onde querem que cheguemos. Num carnaval capitalista, a prioridade será a venda da imagem, mas num carnaval de resistência, estamos aí pra mostrar que tudo é possível de ser realizado.


Ainda criança, Dandara estreou no carnaval com apenas 6 ano, já passou por várias posições dentro da Vila Isabel e se transformou: de passista a musa da escola.

C.I – Existe preconceito com as meninas de comunidades ao assumirem um posto tão sonhado como de uma rainha de bateria?

D.O – Eu acho que isso depende de agremiação, olhar de gestão, como se pretende vender o seu produto. Não julgo esta temática. Cada agremiação sabe o que é melhor para representá-la enquanto instituição social e política.

C.I – Antigamente as rainhas de bateria tinham mais samba no pé, vinham de comunidade e tinham um tempo de reinado maior. Hoje, o que você acredita estar faltando com relação as trocas de reinado constante?

D.O –
É uma temática muito subjetiva. Penso que a identificação com a comunidade faz com que o reinado tenha a possibilidade de maior duração. Também penso que as prioridades fazem parte deste elo. Sempre desejei ser Rainha de Bateria, e esta oportunidade na Renascer de Jacarepaguá me surpreendeu, pois é uma escola família, onde todos metem as mãos pras coisas acontecerem. Lá me sinto à vontade, me sinto abraçada, não somente pela bateria e o mestre Junior, mas também pela diretoria da escola e os segmentos. Lá a força e a perseverança pairam no ar. O amor ao carnaval é o combustível para seguir. Esta essência faz parte de tudo o que acredito no carnaval. Gratidão por este momento e esta oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

C.I – Fugindo um pouco da rotina nas escolas de samba, no próximo ano você e seu marido, Macaco Branco estarão juntos duplamente na Avenida. Vocês conseguem não falar de carnaval em casa?
D.O – Somos imersos no carnaval, o carnaval faz parte de nós, seja na Vila Isabel, onde ele está mestre de bateria e eu estou Musa da Comunidade; seja na Renascer de Jacarepaguá, onde ele está como Diretor de Carnaval e eu estou como Rainha de Bateria. Penso que a base do nosso relacionamento em cumplicidade, respeito, compreensão e amor nos faz hoje mais que carnaval. Somos uma dupla que se apóia e defende ideais e sonhos sejam individuais ou da dupla. Sim, em casa, conversamos sobre carnaval, mas mais que isso, priorizamos a nossa família, o nosso lar, conversando sobre a vida, a educação do Enzo, nosso filho, e as demais temáticas de vida tratadas em família.

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