Por: Aline Lima

Desde sua origem, a história das escolas de samba do Rio de Janeiro foi construída a partir do ritual de sociabilidade dos negros pós-abolição, principalmente, entre as favelas e os subúrbios carioca. Toda a tradição representada pelos cânticos, pela forma de dançar e os enredos se desenvolveram no início do século XX, mais especificamente em 1932, em forma de campeonato com o concurso das agremiações, organizado pelo extinto jornal Mundo Esportivo, onde foi realizado pela primeira vez na Praça Onze – o berço da Pequena África. Nesta época, o carnaval não-oficial, era constituído por pobres, negros e favelados, visto como marginalizado e reprimido.

O que era descriminado no passado, nos dias de hoje o desfile das escolas de samba foi oficializado, popularizado e elitizado. O campeonato se dividiu em vários grupos porém o mais conhecido acontece no Sambódromo da Praça Onze. O evento que era feito para o povo que bastava descer o morro, cresceu e atualmente recebe inúmeras pessoas de diversos estados brasileiros e outros países que costumam pagar caro para prestigiar de perto o espetáculo.

Se o carnaval do Rio é tão espetacular, ele deve muito para as favelas cariocas. Foram das comunidades que saíram grandes nomes que contribuíram para a cultura popular brasileira como Silas de Oliveira, Nelson Sargento, Candeia, Cartola e tantos outros grandes personagens que criaram ou ajudaram a criar as chamadas Escolas de Samba. E é o trabalho e apoio de milhares de moradores dos guetos que tornam possível esse grande espetáculo.

Muitas agremiações foram fundadas dentro de uma favela ao final da década de 1920 por grupos de moradores do local. A partir da fundação da primeira escola de samba, a Deixa Falar em 1928, estimulou a criação de outros grêmios recreativos nos morros para garantir a alegria e diversão do povo, entre elas: a Cada Ano Sai Melhor, Vizinha Faladeira, Vai como Pode (a Portela) e Para o Ano sai Melhor.

Por serem vinculadas à determinadas favelas, que constituem suas comunidades, muitas agremiações trazem em seu próprio nome à ligação ao local de origem. Algumas como a Estação Primeira de Mangueira(Morro da Mangueira), Acadêmicos do Salgueiro(Morro do Salgueiro), Império Serrano(Morro da Serrinha), outras portam nomes que aludam uma região mais ampla, porém trazem na sua identidade sediada nas favelas como a Estácio de Sá(Morro de São Carlos), a Unidos da Tijuca(Morro do Borel) e as Mocidade Independente de Padre Miguel e Unidos de Padre Miguel (favela da Vila Vintém, no bairro Padre Miguel).

Para o carnaval, a relação das escolas de samba com suas comunidade dá empoderamento aos moradores que fazem acontecer os desfiles. Sua pluralidade de ideias e de trabalhadores locais são imprescindíveis para a contribuição da cultura na construção ou desconstrução de estereótipos vigentes afim de escancarar na avenida as desigualdades e contradições do Brasil, expressas tão claramente em sua organização territorial. Em 2020, muitos desfiles usaram a favela como referências pontuais, no caso o samba da Estácio de Sá, a Comissão de Frente do Paraíso do Tuiuti e a última alegoria da Portela; também foi elemento central das narrativas propostas pela União da Ilha, Unidos da Tijuca, Mangueira e Mocidade.

Fora do espetáculo, as instituições formam uma rede de equipamentos culturais e entretenimento, tornando uma das poucas opções de lazer e cultura disponíveis nos bairros periféricos, sendo na maioria dos casos, motivo fundamental da identificação de torcedores e frequentadores. Outro laço que reforça a conexão com suas comunidades são as construções de grandes centros de cidadania, oferecendo serviços médicos, vacinação, oficinas, cestas básicas e outras ações que prestam serviços aos moradores onde o poder público não se faz presente. Mangueira, Salgueiro, Beija-Flor, Portela, Imperatriz Leopoldinense, Império Serrano, Unidos de Padre Miguel e tantas outras co-irmãs tiveram papel fundamental durante o isolamento social em tempos de pandemia que contribuíram para acabar com a fome e prevenir as vidas dos moradores.

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